Pacientes obesos com diabetes tipo 2, quando submetidos a um programa de perda de peso e modificações de hábitos de vida, não apresentaram redução das taxas de infarto do coração e AVC. Esta é a afirmação de uma recente pesquisa apresentada no Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA – American Diabetes Association) que vem causando muitas discussões sobre o impacto da perda de peso na saúde dos pacientes com diabetes.

Esse estudo, chamado de Look AHEAD (do inglês Action for Health in Diabetes, algo como “Ação Pela Saúde em Diabetes” em português) foi realizado em 16 centros de saúde nos Estados Unidos, reunindo mais de 5000 pacientes com diabetes tipo 2 com sobrepeso ou obesidade. Os participantes foram divididos em dois grupos: o primeiro iniciava mudanças intensivas nos hábitos de vida (que incluía atividades físicas e perda de peso) enquanto que no outro grupo os pacientes apenas recebiam orientações sobre dieta e atividade física. Todos os pacientes foram acompanhados por um período médio de 9,6 anos. O objetivo do estudo era responder se as mudanças intensivas nos hábitos reduziriam de fato o risco de problemas cardiovasculares.

No grupo que efetivamente realizou atividade física, os pacientes perderam mais peso no primeiro ano, quando comparados ao grupo que apenas recebeu orientações (8,6 % de perda contra 0,7%) e também mantiveram mais a perda de peso ao final do estudo (6% contra 3,5%). No entanto, apesar desta diferença no peso, não foi vista redução no número de infartos, crises de angina ou derrame nos pacientes do grupo intensivo. Esse resultado foi muito surpreendente, pois o esperado era confirmar que a perda de peso ajudaria a reduzir as chances de uma pessoa apresentar problemas cardiovasculares (no coração e artérias).

Uma das explicações para este resultado é que os pacientes dos dois grupos estavam usando medicações para reduzir o colesterol (estatinas) e, como essas medicações tem o efeito de proteger a saúde do coração, isso poderia interferir nos resultados. Outro ponto importante é que antes do início do estudo, os pacientes do grupo de orientação apresentavam o colesterol ruim (LDL) um pouco mais baixo do que o grupo que efetivamente realizou as mudanças propostas.

Outra justificativa é a de que a perda de peso deve ser mantida por maiores períodos para que o benefício cardiovascular aconteça. No Look AHEAD, a diferença do peso entre os grupos foi maior na fase inicial comparada com a fase final. O que quer dizer que os pacientes do grupo intensivo não conseguiram manter a perda de peso alcançada, e isso poderia justificar também os resultados inesperados.

Mas é preciso também enxergar o outro lado: o dos benefícios. Os pacientes que estavam no grupo das modificações intensivas apresentaram redução dos níveis sanguíneos de diabetes, muitas vezes precisando reduzir medicamentos, e também houve melhora nos casos de apneia do sono, depressão, mobilidade… Enfim, na qualidade de vida como um todo.

Quando um grande estudo deste porte é divulgado, deve-se analisar com cautela as informações. As pessoas com diabetes tipo 2 tem maiores chances de desenvolver problemas cardíacos, pois apresentam muitos fatores que unidos atingem a saúde do coração e das artérias, como: colesterol alto, pressão alta e maior risco de aterosclerose (que é a formação de placas de gordura nas artérias).

Nos paciente com diabetes, os altos níveis de açúcar no sangue vão danificando as artérias pequenas, como as da retina e dentro dos rins, e também as artérias grandes, como as coronárias do coração e as artérias cerebrais. O resultado é que as artérias grandes podem acumular no seu interior placas de gordura, que dificultam ou mesmo impedem a passagem do sangue. O resultado vai depender de qual artéria ficou ?entupida?: se for no coração haverá o infarto, se for no cérebro, AVC.

Quando uma pessoa ganha peso, os níveis de gordura no organismo se elevam e a pressão pode aumentar. Estes fatores somados fazem a pessoa com obesidade apresentar maiores riscos de problemas cardiovasculares. Perder peso seria então uma estratégia para minimizar os riscos, independente se pessoa tem diabetes ou não.

Adote outros bons hábitos

Além da perda de peso, é essencial que tenhamos hábitos de vida mais saudáveis, como: prática de exercícios, alimentação equilibrada, redução do estresse diário, parar de fumar e dormir cerca de oito horas de sono por noite. É o conjunto de todos estes hábitos que vai determinar maior ou menor risco de desenvolver problemas cardíacos no futuro. Não adianta, por exemplo, uma pessoa estar dentro do peso ideal, mas fumar dois maços de cigarro por dia.

O uso de medicamentos corretos para a proteção do coração é outra estratégia para ajudar a diminuir os riscos de problemas. Muitas vezes existe o histórico familir, que é o risco genético de uma pessoa, por exemplo, ter o colesterol ruim mais alto, – e nesses casos o tratamento deve ser iniciado o quanto antes. Os medicamentos atuam tanto na redução do colesterol no sangue como também reduzindo a inflamação que as placas de gordura causam dentro das artérias. Com menos colesterol e menos inflamação, o risco de doenças cardiovasculares diminui.

Em resumo, tudo funciona de forma integrada. A obesidade é reconhecida desde 2001 pela Associação Americana do Coração (American Heart Association) como fator de risco modificável para doenças cardíacas. Apesar de isoladamente a perda de peso nesta pesquisa não ter afetado diretamente este aspecto, reduzir o peso melhora sem dúvidas a qualidade de vida da pessoa como um todo. Muitas vezes, melhorar a alimentação e perder peso é o primeiro passo para uma vida mais saudável.

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