Estudo sugere que pessoas com sobrepeso poderiam ser mais longevas; especialista explica por que esses dados precisam ser tratados com cautela
São Paulo – Ter sobrepeso é bom? Esta é a pergunta que um recente estudo publicado na conceituada revista médica JAMA – Journal of the American Medical Association – colocou em pauta. O estudo sugeriu que uma pessoa em sobrepeso apresenta riscos menores à saúde, ou seja, poderia viver mais. Andressa Heimbecher, médica especialista em Endocrinologia e Metabologia, explica a polêmica.
“Não é porque o estudo sugeriu uma maior longevidade que isso significa que sobrepeso é bom”, alerta. Este estudo do JAMA utilizou o IMC (sigla para Índice de Massa Corporal, medida usada para calcular o sobrepeso) que é um cálculo simples, utilizado em muitas pesquisas, para obter os resultados.
No entanto, nestas pesquisas, as pessoas podem ter outros problemas de saúde que interferem na longevidade, o que gera um resultado que não reflete a realidade. Outra explicação é quea massa muscular é mais pesada que o tecido gorduroso. Por isso, pessoas que têm mais massa muscular tendem a ter um IMC maior, mesmo não apresentando de fato sobrepeso ou obesidade.
A endocrinologista ressalta que isso ocorre porque o IMC não diferencia gordura de músculos e por tal razão não deve ser o único parâmetro avaliado para saber se uma pessoa está acima do peso. “Existem pessoas que têm uma grande porcentagem de tecido gorduroso, que é mais leve que o músculo, é que por isso têm IMC mais baixo. São os chamados ‘falsos magros’”, diz.
De acordo com a especialista, a maior quantidade de tecido gorduroso – e portanto, mais leve – define uma elevação de alguns riscos importantes para a saúde, como colesterol, diabetes e problemas cardíacos. Como o estudo publicado na JAMA é uma meta-análise – ou seja, uma compilação de estudos de grupos heterogêneos –, existem variáveis que precisam ser levadas em conta, como a “qualidade” do tecido que gerou o cálculo do IMC: se é gorduroso ou muscular. “É fundamental avaliar caso a caso”, diz.
A médica indica que o IMC não deve ser a única referência na definição de uma vida saudável e que a quantidade de gordura no corpo é um fator primordial. A localização da gordura – corpo em formato de pêra ou maçã; gordura abdominal ou subcutânea – também deve ser levada em conta, além da existência de problemas como colesterol, pré-diabetes, diabetes e risco cardíaco aumentado.
“Só um especialista pode fazer essa avaliação mais completa. O cálculo do IMC não basta”, afirma. Ela lembra ainda que alguns problemas, como o mau funcionamento da tireoide, podem gerar ganho de peso. “Tudo deve ser investigado, a partir inclusive dos exames clínicos recomenda dos para cada faixa etária”, recomenda.
Um novo conceito de IMC
IMC – sigla para Índice de Massa Corporal – é o resultado de um cálculo que divide o peso de uma pessoa pela sua altura ao quadrado. É utilizado para identificar se uma pessoa está abaixo, acima ou dentro do peso esperado para sua altura. Desde sua origem em 1850, quando foi criado e desenvolvido pelo matemático e estatístico belga Lambert Adolphe Jacques Quetele, o IMC vem sendo utilizado para definir estratégias de tratamento e prevenção para o controle da obesidade.
Por ser um cálculo simples, o IMC vem sendo largamente utilizado como base para o tratamento de pacientes. Resultados entre 18,5 e 25 kg/m2 são considerados dentro do normal. Entre 25 e 30 kg/m2, considera-se sobrepeso; entre 30 e 35 kg/m2, obesidade grau I; entre 35 e 40 kg/m2, obesidade grau II; e acima de 40 kg/m2, obesidade grau III ou obesidade mórbida. As pessoas com IMC abaixo de 18,5 kg/m2 são consideradas abaixo do peso.*
Apesar de o conceito acima ser o universal, Dra. Andressa preconiza que cada um deve buscar o seu IMC ideal para manter o peso dentro de padrões saudáveis – entre 18,5 e 25 kg/m2 –, o que deve ser feito levando-se em conta a medida da gordura corporal e a medida da circunferência abdominal. “Esta medida ajuda a estimar o risco de problemas cardíacos”, lembra.
Além disso, o acompanhamento de exames de sangue, como colesterol e glicose, são fundamentais para que se estabeleça uma meta individual. “A avaliação deve ser feita de forma global e individualizada. Eis o ‘novo’ IMC: I de Individualizar, M de Medida e C de composição corporal: Individualizar a Medida de Composição Corporal”, finaliza.
Artigo publicado na revista Exame.